Crédito: Electro Plastic |
Todos esses avanços e os benefícios que os acompanham não acabam com um dos maiores problemas causados em consequência do grande uso de embalagens pela sociedade contemporânea, e apontado no início dessa reportagem: o lixo.
No Brasil são produzidos diariamente 240 mil toneladas de resíduos sólidos. Pouco mais da metade desse volume vem dos domicílios. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, as embalagens respondem por um terço de todo o lixo doméstico. Mas talvez a pior informação vinda desse cenário desolador esteja relacionada ao descarte de todo esse material. Dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico de 2008, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que metade dos centros urbanos ainda deposita esses resíduos em lixões, espaços com pouco ou nenhum cuidado ambiental, e menos de 50% deles possuem programas de coleta seletiva, utilizando apenas 10% do potencial do mercado da reciclagem. Em resumo, o país joga muito dinheiro fora.
Apesar dos dados pouco animadores, o poder público e a iniciativa privada buscam, aparentemente, formas de solucionar o problema. Uma delas é a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Ainda em fase de regulamentação, a lei obriga todos os municípios a criarem programas de destinação correta do lixo no prazo de quatro anos.
Para Eloísa Garcia, do CETEA, as ações previstas na PNRS, além de ajudar a resolver a questão do descarte, também contribuirão para que se reduzam imperativamente as emissões de gases do efeito estufa dos aterros e lixões.
Com relação ao mundo corporativo, as empresas mostram cada vez mais preocupação com todas as etapas do ciclo de vida de uma embalagem. Vale destacar as ações da Tetra Pack para reciclar suas famosas caixinhas longa-vida. Recentemente, a empresa desenvolveu uma técnica inovadora para a separação dos três elementos que a compõem: papel, plástico e alumínio. A empresa também é responsável pelo hotsite Rota da Reciclagem [www.rotadareciclagem.com.br/index.html], que oferece informações úteis sobre coleta, reciclagem e educação ambiental.
O recado da sustentabilidade já foi assimilado também por outros dois grandes players do varejo mundial: o Carrefour e o Walmart. “Os produtos de nossa marca virão embalados com dicas de sustentabilidade, que estejam ligadas ao cotidiano do consumidor para que ele faça compras cada vez mais consciente”, afirma Paulo Pianez, diretor de sustentabilidade do Carrefour no Brasil. Na Europa, a rede de supermercados utiliza um design diferenciado em suas embalagens que reduzem o volume e o peso do produto, tornando-o, de acordo com a companhia, ainda mais sustentável.
Já o Walmart Brasil, não apenas tem implementado a eficiência energética e a ecologia em suas lojas, mas também tem programas voltados às cadeias de produtos que distribui, envolvendo seus grandes fornecedores. O Programa “End to End – Sustentabilidade de Ponta a Ponta”, implantado em janeiro de 2010, contou com a adesão de empresas como 3M, Cargill, Colgate, Coca-Cola, J&J, Nestlé, Pepsico, Procter e Unilever.
O conjunto de fornecedores representa mais de 40% do que é vendido nas lojas da rede. Com esse programa, a marca quer influenciar mudanças a partir das compras do dia a dia de seus clientes, propondo mudanças simples em produtos(da matéria-prima ao descarte) que resultem em grandes transformações pela preservação dos recursos naturais, o que inclui a adoção de metas globais nos pilares do clima, da energia, dos resíduos e dos produtos.
Informação e consumidor bem embalados
Porém, as embalagens devem ser percebidas de maneira global dentro dos processos produtivos de diferentes cadeias industriais. “A embalagem é uma ferramenta de otimização do todo, e não deve ser vista apenas sob a ótica da minimização de impactos de resíduos”, acredita Bruno Pereira. O pacote de um alimento importa desde a sua conservação até seu transporte, tornando-se, nas prateleiras do varejo, uma ferramenta de comunicação e de educação para a sustentabilidade. “Não queremos uma embalagem de menor impacto ambiental, mas de maior impacto para a sustentabilidade ao longo de todas as cadeias produtivas”, equaciona o especialista da ESPM.
Para Silvia Dias, jornalista da área de sustentabilidade corporativa, as empresas são grandes responsáveis pelo trabalho de transformar informação em educação. “Qualquer profissional de marketing sabe que o principal canal de comunicação com o consumidor é a embalagem do produto. Ela comunica valores, percepções, emoções e também informações concretas, tais como nome e endereço do fabricante, composição química ou nutricional, canais de contato com o atendimento ao consumidor, etc. Mas se você prestar atenção verá que ela comunica outra coisa: o compromisso da empresa com a sustentabilidade”, argumenta.
Mas tanto Eloísa Garcia, a pesquisadora de tecnologia, quanto Bruno Pereira, o pesquisador de marketing e sustentabilidade, acreditam que nem tudo o que “parece sustentável” chegará a ser. E, por isso mesmo, a educação do consumidor-cidadão é o elo a ser trabalhado daqui para frente. “O esforço deve ser conjunto, afinal, sustentabilidade é um conceito fácil de ser entendido, mas complexo de ser aplicado no cotidiano”, afirma o professor Pereira. Para ele, a gestão coordenada do problema, com visão sistêmica das cadeias de produção e consumo são chaves para a mudança de paradigmas em favor da sustentabilidade.
Por: Isabel Gnaccarini, especial para o SESI
(Conteúdo gentilmente cedido pelo SESI – Serviço Social da Indústria para o Mercado Ético leia mais)
Disponível em: Mercado Ético
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