"A logística reversa é processo de planejamento, implementação e controle do fluxo dos resíduos de pós-consumo e pós-venda e seu fluxo de informação do ponto de consumo até o ponto de origem, com o objetivo de recuperar valor ou realizar um descarte adequado. Desta forma, contribuindo para a consolidação do conceito de sustentabilidade no ambiente empresarial, apoiada nos conceitos de desenvolvimento ambiental, social e econômico. " (Patricia Guarnieri)



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domingo, 28 de abril de 2013

PNRS abre novos mercados no país - Na indústria da reciclagem estão as maiores oportunidades

Cada etapa a ser superada na implantação da logística reversa – o gerenciamento do fluxo de produtos e embalagens do ponto de consumo até o ponto de origem, o contrário da logística usual, que administra os materiais da produção até o consumo final –, espinha dorsal do Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS, Lei nº 12.305/2010), é um novo mercado que começa a ser vislumbrado por empresas nacionais e estrangeiras. Esses nichos vão desde campanhas publicitárias de educação ambiental dos consumidores, passam pela ampliação da indústria de reciclagem e alcançam a prestação de serviços às seis cadeias produtivas priorizadas no marco legal.
Após quase vinte anos de debate,  indústria, comércio e consumidores de eletroeletrônicos, pilhas e baterias, lâmpadas, embalagens, óleos lubrificantes e pneus terão de lidar, conjuntamente, com a devolução de embalagens e produtos e o reaproveitamento desses materiais em processos produtivos próprios ou de terceiros. A intenção é estender o PNRS a todos os segmentos industriais, mas o foco inicial são os resíduos pós-consumo daqueles que oferecerem maior risco ambiental e já estão submetidos a alguma regulação. 
Embora o fluxo logístico reverso já seja praticado por parte das empresas brasileiras, para a maioria dos segmentos o gerenciamento de resíduos pós-consumo é novidade. Esta realidade vem mudando por diversos fatores, segundo o diretor da Sargas Logística, Leonardo Lacerda: pressões externas por maior rigor da legislação ambiental, concorrência e redução de custos. “A legislação ambiental caminha no sentido de tornar as empresas cada vez mais responsáveis por todo ciclo de vida de seus produtos, ou seja, serem legalmente responsáveis pelo seu destino após a entrega dos produtos aos clientes e do impacto que estes produzem no meio ambiente”, diz. Segundo ele, o aumento de consciência ecológica dos consumidores é outro fator, ao lado da valorização, por parte do cliente, de marcas que adotam políticas de retorno de produtos. Não é desprezível o resultado que as empresas conseguem com o reaproveitamento dos resíduos. 
Para empresários e especialistas ouvidos pelo DCI, o principal gargalo para o funcionamento da logística reversa – a insuficiente infraestrutura para a multiplicidade de soluções de reciclagem, transporte e gerenciamento que será demandada pelo PNRS – é de onde virá a grande oportunidade para novos negócios. As atuais condições estão muito aquém da necessidade para cobrir a extensão territorial do Brasil. Na região Sudeste, onde ocorrem 56% do consumo de eletroeletrônicos, existem apenas 18 recicladoras dentro dos padrões da legislação. 
“Existe muito espaço para crescer nos estados mais desenvolvidos do Brasil, portanto, é só imaginar o que será preciso fazer no resto do País”, prevê o relator do grupo temático dos eletroeletrônicos e diretor de Responsabilidade Socioambiental da Associação Brasileira da Indústria de Eletroeletrônicos (Abinee), André Luis Saraiva. O empresário é o interlocutor da Abinee e Eletros nas negociações com o governo para o estabelecimento do acordo que será seguido pelo setor. 
Segundo ele, no Centro-Oeste, Nordeste e Norte funciona apenas uma recicladora em cada região. O País não dispõe de tecnologia para reciclar monitores de computador e placas de circuito interno, os bens de menor e maior valor, respectivamente, na reciclagem de eletroeletrônicos. 
O gerente geral de Sustentabilidade da Whirlpool – líder no mercado brasileiro de eletrodomésticos com as marcas Brastemp, Consul e KitchenAid – e diretor da Associação Brasileira de Embalagens (Abre), Vanderlei Niehues, também concorda que o número de recicladores é muito baixo e concentrado em São Paulo e Sul do Rio de Janeiro. “Temos muitas associações de catadores, mas poucos recicladores que cumprem as exigências legais”, enfatiza. Segundo ele, várias empresas da Europa e Estados Unidos estão interessadas em se instalar no Brasil e grupos nacionais se preparam para ganhar ou ampliar presença no mercado das sucatas com valor. Entre as estrangeiras atraídas estão a SPR, maior grupo espanhol na área de gestão de resíduos, e a Indústria Fox, subsidiária da suíça Fox & Earth, recicladora de refrigeradores que já opera no mercado brasileiro e deverá ampliar sua operação. 
O diretor de Logística da TGestiona, empresa que realiza a logística reversa do Grupo Telefônica, Maurício Pastorello, dá uma pista de como esse mercado poderá avançar. “Quando gerenciamos os modens em poder dos clientes, não estamos pensando só na nossa responsabilidade ambiental, mas também no controle dos nossos ativos. Recuperá-los é colocá-los de volta dentro do parque de utilização, reaproveitando os que estão quebrados e dando destino final a eles por meio de reciclagem. Existe também um viés de negócios”, afirma. A TGestiona já busca clientes para ampliar sua presença na logística reversa. “As oportunidades de negócios existem em várias direções: para quem presta esse serviço e para a empresa que recupera os ativos”, completa. 

Investimentos novos 

O empresário paraibano Flavio Costa é um dos empreendedores entusiastas do PNRS. Em 2010, logo após a aprovação da nova legislação, ele criou a Rctec Resíduos Eletrônicos para tratar produtos e embalagens de eletroeletrônicos. Embora de pequeno porte e sediada em João Pessoa, a empresa ambiciona o mercado nordestino. 
“Nascemos na Paraíba, onde identificamos deficiência na destinação adequada para estes resíduos, logo depois nos depararmos com essa mesma deficiência em todo o Nordeste”, afirma. O objetivo é que, por meio de parcerias, a empresa passe a operar em breve em Fortaleza, Natal, Recife e Salvador. Segundo o empresário, seus concorrentes são informais e voltados apenas aos materiais mais fáceis de serem comercializados após a reciclagem, como latas de alumínio e pet. 
Na opinião de Costa, a logística reversa ainda é cara no Brasil devido ao volume gerado, ainda baixo, por exemplo, para estimular investimentos em uma fábrica de reciclagem de placas de circuito interno. “Com a nova lei, não levará muito tempo para isso acontecer”, diz. Novos investimentos estão na pauta de uma das poucas empresas brasileiras a atuar nacionalmente na descontaminação de lâmpadas fluorescentes, a Apliquim Brasil Recicle, que já sente o aumento espontâneo na busca pelo serviço, desde a publicação da lei em 2010. 
Em 2011, a empresa faturou R$ 7,8 milhões, alta de 32% sobre 2010 (R$ 5,9 milhões). Para 2012, a expectativa é crescer mais 20%, atingindo R$ 9,5 milhões. O portfolio de clientes inclui gigantes como a Petrobras, Gerdau, Volkswagen, Ford, Scania, General Motors e Embraer, além de universidades, hospitais e órgãos públicos. 
Diferentemente de outros serviços de coleta de lâmpadas fluorescentes, que atuam apenas com a descaracterização do produto e seu posterior descarte em aterros sanitários, a empresa busca reaproveitar todo o material empregado. Os soquetes são vendidos para recicladoras de alumínio; o vidro, após descontaminação, para recicladores de vidro; e o mercúrio, após purificação, para empresas químicas. “Com a receita gerada por essas vendas reduzimos até 10% os custos globais da companhia”, relata o presidente, Mário Sebben.
Segundo ele, ainda há um grande desafio à expansão da demanda: “O preço é fator limitante”. A empresa cobra de R$ 1 a R$ 3, em média, pelo resgate de cada lâmpada esgotada ou queimada. Ele conta que, para reduzir o custo de logística, um dos que mais fortemente impacta o preço do serviço, a companhia está tentando recrutar empresas intermediárias na receptação de lâmpadas em todo o País, de forma a permitir o acúmulo do produto e a redução do número de viagens. 
A empresa investiu em 2012 cerca de R$ 1,8 milhão, incluindo novos caminhões e aumento da automação e desenvolvimento de aplicações mais nobres para o vidro em pó.

Destino final 

“A nova lei e as declarações da presidente Dilma olham só para as cooperativas de catadores, mas aquele lixo das cooperativas tem que ir para algum lugar, alguém tem que processar aquilo”, diz o presidente da Wisewood – Soluções Ecológicas, Rogério Igel.“Uma das razões de termos criado a Wisewood é este plano, queremos cadastrá-la como destinadora final de resíduos plásticos, pois o aumento da disponibilidade deste material provocará uma redução nos preços”, afirma. 
Fundada em 2007, a Wisewood fabrica dormentes ferroviários de plástico, em substituição aos tradicionais de madeira. A matéria-prima são resíduos pós-consumo, como embalagens descartadas, e pós-industriais, como aparas de polipropileno. Hoje a empresa produz mil toneladas de dormentes ao mês, mas tem a intenção de dobrar a produção até o final de 2012. 
A indústria, sediada em Itatiba (SP), deve faturar R$ 30 milhões em 2012, triplicando a receita de 2011. Já são seus clientes a MRS Logística e a Vale, que está experimentando o novo produto. Nos próximos anos, Igel calcula incremento anual na casa dos dois dígitos no faturamento da companhia. “Esta é uma empresa de tecnologia, então a gente depende de P&D (pesquisa e desenvolvimento), e essas coisas demoram, mas 20% ao ano (de crescimento) me parece factível”, projeta o empresário.

Por: Liliana Lavoratti / Thais Carrança


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