"A logística reversa é processo de planejamento, implementação e controle do fluxo dos resíduos de pós-consumo e pós-venda e seu fluxo de informação do ponto de consumo até o ponto de origem, com o objetivo de recuperar valor ou realizar um descarte adequado. Desta forma, contribuindo para a consolidação do conceito de sustentabilidade no ambiente empresarial, apoiada nos conceitos de desenvolvimento ambiental, social e econômico. " (Patricia Guarnieri)



Crédito da imagem: jscreationzs / FreeDigitalPhotos.net

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Dr. Saulo Rodrigues, diretor do CDS/UnB, fala sobre resultados da Rio+20

Mais de cem chefes de estado e de governo, delegações de 193 países, seis mil eventos, participação de cem mil pessoas. Os números superlativos da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, chamaram as atenções do mundo inteiro para o Rio de Janeiro, ao longo da semana. Ao final de um intenso processo, com incontáveis mobilizações populares e declarações contundentes questionando a fragilidade da decisão final, expressa no documento “O Futuro que queremos”.
Um encontro de tamanha envergadura não pode ser medido somente pela negociação política no âmbito governamental. Os fóruns organizados por movimentos sociais, Organizações Não Governamentais (ONGs), comunidade científica e empresários elevaram a agenda ambiental a uma posição irreversível de destaque.
Essa é a percepção do professor Saulo Rodrigues Filho, doutor em Ciências Ambientais pela Universidade de Heidelberg, na Alemanha, e diretor do Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS) da UnB. Em entrevista à UnB Agência, Saulo, faz uma avaliação crítica do teor do relatório final da Rio+20 e atribui à metodologia do consenso, adotada pela Nações Unidas, um fator político limitante.

Confira a entrevista na íntegra:

UnB Agência: Como foi a participação da UnB na Rio+20?

Saulo Rodrigues Filho: A melhor avaliação levará algum tempo, porque muitos efeitos não temos condições de medir agora. Encaminhamos contatos, articulações que demoram algum tempo para se firmar. O CDS teve uma presença importante no Pier Mauá (um dos espaços oficiais da Conferência, reservado aos órgãos públicos e universidades). O objetivo era promover a imagem do Centro e da própria UnB. Foi um espaço muito visitado, superou as nossas expectativas. Também foi muito interessante o seminário que organizamos com a participação do filósofo Edgar Morin, na última segunda-feira. Mesmo com 90 anos, ele está com a cabeça em plena atividade, se sobressai pelas ideias, pelo conhecimento que tem para ler o mundo atual. O CDS também esteve envolvido na discussão sobre os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Reuni um grupo aqui no Rio para discutir o tema, o mesmo designado pela ONU para começar a pensar diretrizes para a definição desses objetivos.

UnB Agência: O que o senhor destaca mais?

Saulo Rodrigues Filho: O principal foi a criação do Centro Mundial para o Desenvolvimento Sustentável, que terá sede no Rio de Janeiro, anunciado na quinta-feira 21 pela ministra do Meio Ambiente, Izabela Teixeira. A iniciativa envolve um consórcio de instituições, inclusive a Coppe (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia), da UFRJ, e a Universidade das Nações Unidas. O patrocínio será do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). Esse centro poderá se tornar uma referência mundial importante, para elaborar propostas, projetos, discutir o desenvolvimento sustentável de uma forma global. 

UnB Agência: A comunidade científica, de um modo geral, conseguiu influenciar os debates na conferência?

Saulo Rodrigues Filho: Os cientistas tem propostas e convicções bastantes mais ousadas, mas como não são os cientistas que governam as instituições, a intervenção é mais limitada, porque na hora de sentar em uma mesa de negociação, entram todos os interesses políticos, econômicos e sociais. A gente paga um preço por ter uma estrutura muito democrática, com essa metodologia de funcionamento. Os interesses são muitos e, às vezes conflitantes. Como as decisões são tomadas mediante consenso, o documento fica mais genérico. 

UnB Agência: O rascunho zero, documento final aprovado pelos chefes de Estado, foi bastante criticado por ONGs, movimentos sociais, intelectuais e até delegações diplomáticas. O senhor vê fragilidades no texto?

Saulo Rodrigues Filho: Há 20 anos, as manchetes do dia seguinte ao encerramento da Conferência ECO-92, também no Rio, foram parecidas. Com o tempo, as pessoas avaliaram que a reunião foi muito positiva. Lógico que, agora, tínhamos a expectativa que os países ricos iriam financiar a adaptação tecnológica dos países mais pobres, compromisso que não apareceu no documento. Entretanto, consigo ver coisas positivas, como a autorização para que a ONU defina os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), a partir de 2015, a questão dos oceanos, que teve decisão importante (a negociação avançou e o texto adota um novo instrumento internacional sob a Convenção da ONU sobre os Direitos do Mar, para uso sustentável da biodiversidade e conservação em alto mar). Com o passar do tempo, a gente vai perceber que a Rio+20 foi responsável por mudanças importantes. Toda a sociedade, os governos, as empresas, vão tratar o tema do desenvolvimento sustentável com mais seriedade. É um benefício claro, porém indireto. O desenvolvimento sustentável está ganhando cada vez mais importância.

UnB Agência: Como o senhor avalia a participação da sociedade civil na Conferência?

Saulo Rodrigues Filho: Olha, é preciso que se reconheça que, pela primeira vez, a conferência da ONU abriu espaço para a sociedade civil. Isso foi uma coisa positiva, uma inovação. Agora, ter um consenso de quase 200 governos nacionais é complicado, e isso elimina muitas das propostas da sociedade, mas o diferencial foi esse diálogo direto, que ocorreu, a meu ver.

UnB Agência: O senhor acredita na ideia da economia verde, outro dos temas polêmicos da Rio+20?

Saulo Rodrigues Filho: Na minha opinião, tratar a economia verde como um pilar da conferência foi um equívoco. É um conceito muito limitado para representar a tradução do que é desenvolvimento sustentável. Trata-se de forma míope de lidar com a questão, em um viés muito economicista, de manter o estado das coisas, apenas promovendo pequenas melhoras.

UnB Agência: Após a Conferência, como pensar a agenda de futuro?

Saulo Rodrigues Filho: Primeiro, não permitir que haja retrocesso daquilo foi aprovado na Rio 92, avançar na negociação do clima, por meio da conferência das partes. Outra questão são os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, que podem constituir fator relevante na adoção de políticas públicas. No âmbito do Brasil, eu acredito que o governo percebeu a importância que o tema possui, justamente influenciado pelo debate da Rio+20. Precisamos é cobrar a implementação de uma agenda, que não fique na retórica, no discurso.


Fotos: Luiz Filipe Barcelos

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