
O mercado para conteúdo reciclado na construção civil está em plena expansão, conforme aponta o especialista Marcos Casado, gerente técnico da Green Building Council Brasil que faz parte do World GBC, a maior organização internacional para desenvolvimento da construção sustentável. O GBC Brasil é responsável, no país, pela certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) que atesta a adoção das melhores práticas, incluindo tecnologias, materiais, processos e procedimentos operacionais. Confira a entrevista de Marcos Casado ao Cempre Informa
Onde os reciclados estão presentes na construção civil?
A cada dia são lançados novos produtos com conteúdos reciclados. Eles estão tanto nos insumos - brita e areia reciclada que podem ser de ATT (Áreas de Transbordo e Triagem dos Resíduos da Construção Civil), PET ou cana-de-açúcar – como nos produtos de acabamento: pisos elevados em polipropileno, isolantes acústicos e térmicos de PET, tapumes e telhas de embalagens longa vida e tubo de creme dental, carpetes, madeiras plásticas, perfis e caixilhos de alumínio reciclado, entre outros.
Essa é uma tendência mundial? Como está o Brasil?
Sim, o crescimento desse mercado é reconhecido em todo o mundo. No Brasil, também há vários pesquisadores buscando novos produtos que utilizem menos recursos naturais, pois estes já são muitas vezes escassos. Um bom exemplo é a pesquisa de agregados que substituam a areia - em São Paulo, estamos trazendo esse insumo de locais cada vez mais distantes, o que cria um entrave econômico além de ambiental. Daí a importância dos estudos para se obter esse produto de garrafas PET e da cana-de-açúcar que já estão bem avançados e com ótimos resultados de desempenho.
Como é possível estimular esse crescimento?
A educação é fundamental, por isso, um dos nossos pilares é a capacitação dos profissionais da área. No site da GBC Brasil, é possível conhecer nosso programa educacional que inclui palestras, cursos e eventos. O próprio sistema de certificação LEED também estimula esse desenvolvimento, uma vez que incentiva que 10% a 20% dos materiais adquiridos para a obra tenham conteúdo reciclado e, é lógico, atendam às normas legais. Na Câmara Federal, existe um projeto de lei que visa reduzir o IPI desses produtos. Além disso, temos a Política Nacional de Resíduos Sólidos que deve dar força de lei à resolução Conama 307 sobre resíduos da construção civil.
Com a Copa e as Olimpíadas, está havendo impulso na busca da certificação LEED?
Sim, hoje já temos nove estádios da Copa registrados para a certificação, além do compromisso de termos as Olimpíadas Verdes no Rio de Janeiro. Esses grandes eventos vão, com certeza, aumentar a demanda por produtos feitos a partir de reciclados. Os estádios estão dando o exemplo: todos os que foram demolidos ou estão passando por grandes intervenções vêm reutilizando seus resíduos no próprio local, fazendo a triagem e britagem para uso como agregados com finalidade não-estrutural. O melhor de tudo é que esses cuidados não custam mais e às vezes até trazem retorno financeiro para a obra.
Quais as exigências em relação aos resíduos gerados nas obras?
O sistema LEED tem um pré-requisito que obriga a correta gestão dos materiais recicláveis e determina o desvio de pelo menos 50% dos resíduos do "bota fora" ou aterro sanitário. Com a implantação de um bom plano de gerenciamento de resíduos na obra, isso é possível. Porém muitas cidades brasileiras ainda não dispõem de lugares adequados para esse descarte: as chamadas ATTs (Áreas de Transbordo e Triagem dos Resíduos da Construção Civil). Nesse caso, o melhor é reutilizar os resíduos no próprio local, o que também é perfeitamente viável. Temos exemplos de obras no Brasil que têm atingido 77%, 80%, 90% e até 98% de desvio desses resíduos dos aterros sanitários – o que é um grande ganho ambiental.
Qual a posição do Brasil no ranking da certificação?
O sistema é utilizado em mais de 117 países. O Brasil é o 4º colocado no ranking mundial de empreendimentos em busca da certificação LEED, atrás dos Estados Unidos, Emirados Árabes Unidos e China.

O CONSUMIDOR FINAL TAMBÉM QUER

"Muitos desses produtos agregam, além dos incontáveis benefícios ambientais, vantagens competitivas em termos de desempenho frente aos tradicionais", conta José Luis Scaglia, diretor de grupo – mundo construção da Leroy Merlin Brasil. Mas a relação custo-benefício ainda dificulta um crescimento mais sistemático. "Sentimos claramente que o consumidor brasileiro busca esses produtos, valoriza sua presença nas lojas, mas ainda se espanta com os preços, pois tem a expectativa de que sejam mais baratos do que os convencionais." Como garantem os especialistas, à chegada da Política Nacional de Resíduos Sólidos deve ser agregada uma política de incentivos fiscais para produtos feitos à base de reciclados, barateando seu custo para o consumidor final e incentivando, assim, toda a cadeia da reciclagem.

Fonte: CEMPRE
Nenhum comentário:
Postar um comentário