Rando: programa do inpEV atingiu ótimos resultados
É fato que a indústria brasileira alcançou índices invejáveis para a reciclagem de materiais plásticos. Estudo da Plastivida Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos, divulgado no final do ano passado, situa o país entre os dez maiores recicladores mundiais desses resíduos pós-consumo, com um índice de 21,2%, aferido em 2007, quando quase um milhão de toneladas foram recicladas. Considerados os rejeitos industriais e de pós-consumo, a atividade de reciclagem cresceu à média anual de 9,2%, no período de 2003 a 2007. Projetos arrojados, ainda embrionários, como os empreendidos pela indústria dos compósitos termofixos, e outros bem articulados, como o do segmento de agroquímicos, prometem melhorar esse quadro. Há casos complicados, como o das embalagens pós-uso de óleos lubrificantes, geradas em larga escala no país, sem, contudo, um sistema de destinação adequada na mesma proporção.
Bem articulado, o trabalho capitaneado pelo Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV) – entenda-se pós-consumo – representa uma experiência bem-sucedida para destinação e reciclagem de embalagens que requerem uma solução mais complexa, ao tratar de invólucros que acondicionam produtos considerados periculosos (tais como as de óleos lubrificantes).
Essa entidade representa a indústria fabricante de defensivos agrícolas em sua responsabilidade de destinar as embalagens pós-uso de seus produtos. Possui atualmente 77 empresas associadas. “Envolve praticamente 100% dos produtos agroquímicos”, comemora o diretor-presidente do inpEV, João Cesar M. Rando. Amparado por uma legislação federal (Lei nº 9.974/2000), que atribui obrigações ao agricultor, ao canal de distribuição, ao fabricante de defensivos agrícolas e ao poder público, o inpEV tem obtido ótimos resultados.
O programa gerenciado pelo inpEV mereceu reconhecimento internacional. No final do ano passado, Rando participou de um encontro global, organizado na Polônia, pela CropLife International, federação que congrega a indústria de produtos fitossanitários.
Para o presidente do instituto, os representantes de vinte países com programas semelhantes ficaram impressionados com os resultados do sistema brasileiro, elogiaram sua eficácia e o reconheceram como o melhor modelo.
No ano passado, a cadeia agrícola unida retirou do meio ambiente e deu destinação adequada a 24,4 mil toneladas de embalagens pós-consumo de defensivos agrícolas, volume 15,6% superior ao total de 2007. Essa soma engloba embalagens rígidas plásticas e metálicas, além das flexíveis, correspondentes a sacos plásticos, de papel ou alumínio (geralmente usados para formulações em pó). As plásticas rígidas representam em torno de 60% do total, nas estimativas de Rando, algo em torno de 20 mil toneladas/ano, composto por PEAD, PP e coextrudadas.
Todas as embalagens secundárias, as flexíveis e as rígidas que não utilizam água como veículo de pulverização, são consideradas não-laváveis. Mas esse volume é pequeno: 7,4% do total direcionado pelas unidades de recebimento. Mesmo assim, elas também devem ser devolvidas para encaminhamento e destinação adequada (seguem para a incineração, em locais licenciados). No caso dos plásticos, apenas os flexíveis não são tecnicamente laváveis.
A legislação estabelece a devolução tanto das embalagens primárias (70% do total), aquelas de contato direto com os fitossanitários, como as secundárias, em geral de papelão, que acondicionam as primárias. “A taxa de retorno ainda é baixa para as embalagens secundárias”, admite Rando. De todo o volume recolhido, ele estima retirar do meio ambiente 80% das embalagens utilizadas pelo setor, com índice de 95% das primárias. Desde março de 2002, quando o instituto entrou em funcionamento, até setembro do ano passado, foram investidos mais de R$ 270 milhões no projeto. Nesse período, a destinação correta abarcou mais de 100 mil toneladas de embalagens.
A cada elo o seu papel – Cabe ao agricultor a responsabilidade de lavar (lavagem tríplice ou sob pressão), inutilizar as embalagens, perfurando o fundo (para evitar o reúso), e devolvê-las ao local licenciado para o recebimento, indicado pelo revendedor, distribuidor ou cooperativa na nota fiscal. No ato da devolução, o agricultor recebe um comprovante. Também deve encaminhar as tecnicamente não-laváveis e as secundárias. O procedimento da lavagem tríplice reduz a substância química residual nas embalagens a menos de cem partes por milhão, teor considerado não-tóxico. As que não foram tríplice-lavadas pelos agricultores são direcionadas para a incineração.
Os canais de distribuição, por seu turno, devem indicar o endereço de devolução na nota fiscal de venda, disponibilizar e gerenciar local de recebimento e, ainda, orientar e conscientizar os agricultores. Representada pelo inpEV, a indústria produtora de defensivos agrícolas assume toda a administração do transporte, promovendo a coleta e a destinação dos volumes às recicladoras ou incineradoras. “A indústria faz toda a logística de retirada e de dar destinação correta a essas embalagens”, informa o presidente do inpEV. O sistema conta com 388 unidades de recebimento autorizadas, onde os frascos descartados são inspecionados, separados e destinados. O material recolhido segue para os postos ou direto para uma unidade central.
Os primeiros constituem unidades menores, geridas por uma associação de distribuidores ou cooperativas, que recebem, inspecionam e encaminham as embalagens para uma unidade central, também gerida por uma associação de distribuidores ou cooperativas, com o cogerenciamento do inpEV. Nas centrais, além de todo o processo de inspeção e separação, a atividade inclui ainda a compactação das embalagens. Vantagem: um caminhão de material compactado equivale a seis de produto a granel. O transporte dos fardos de embalagens para o destino final – a reciclagem ou a incineração – é responsabilidade do inpEV.
O sistema envolve a parceria com dez empresas, localizadas em Mato Grosso, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e São Paulo, credenciadas a reciclar o material encaminhado pelas centrais e transformá-lo em embalagens para óleos lubrificantes e ainda em peças tais como tubos para esgoto, bombonas, conduítes e dutos corrugados, caixas para fiação elétrica e saco plástico de descarte e incineração de lixo hospitalar, entre outras. Mas só são fabricados produtos orientados e aprovados pelo inpEV, que prioriza artefatos para uso industrial.
As empresas recicladoras precisam ser ambientalmente licenciadas, cumprir as exigências legais para o recebimento das embalagens vazias de defensivos agrícolas e atender aos requisitos de qualidade e segurança estabelecidos pelo inpEV. “Toda a cadeia é rastreadora”, ressalta Rando. O excedente de material reciclado é vendido apenas para empresas de transformação com contratos de utilização autorizados pelo instituto, o que as coloca também no processo de rastreamento.
Sem fins lucrativos e instituído para cumprir a legislação, o sistema – integralmente financiado por agricultores, distribuidores, cooperativas e a indústria fabricante dos agroquímicos – beneficia o meio ambiente, porém é deficitário. Por essa razão, uma das preocupações da direção do inpEV é buscar mecanismos que tornem o programa autossustentável. O ganho ambiental proporcionado pelo sistema foi mensurado em estudo encomendado pelo inpEV e realizado pela Fundação Espaço ECO. A pesquisa apontou economia de 300 mil barris de petróleo, em cinco anos, e redução de 130 mil toneladas na emissão de CO2 na atmosfera, ganho atribuído ao modelo logístico adotado.
Para este ano, a estimativa do diretor-presidente do inpEV para o programa é de destinar 30 mil toneladas. Essa perspectiva, porém, dependerá de como a crise financeira afetará o mercado brasileiro de agroquímicos.
Logística de Ciclo fechado
Inaugurada em junho do ano passado, a Campo Limpo Reciclagem e Transformação de Plásticos S.A. movimenta mais um passo na consolidação do projeto desenvolvido pelo inpEV.
Material revalorizado compõe nova embalagem multicamadas para agroquímicos |
Idealizada pelo instituto, a empresa deve cumprir o objetivo de fechar o ciclo de gestão das embalagens pós-consumo de defensivos agrícolas e promover a autossustentabilidade do sistema. “Seu papel é complementar o conjunto e produzir embalagens para envase de agroquímicos”, declara Rando, também diretor-presidente da recicladora.Os invólucros produzidos pela Campo Limpo resultam de tecnologia para sopro multicamadas sem barreira e atendem às especificações determinadas pelo Ministério da Agricultura, além de certificação das Nações Unidas. “A indústria fecha o ciclo e busca a atuação sustentável”, pondera o diretor-presidente. Na opinião dele, a produção de embalagens plásticas rígidas provenientes da reciclagem e transformação dos invólucros pós-uso de agrotóxicos constitui uma experiência única no mundo e ainda soma ponto extra ao possibilitar o seu uso até mesmo na própria indústria de defensivos agrícolas.
A recicladora opera dentro de conceitos de ecoeficiência e se dispõe a atuar como um centro de desenvolvimento de novas tecnologias voltadas à reciclagem. Em consonância com sua proposta, a construção expressa as preocupações de cuidados com o meio ambiente: possui uma moderna estação de tratamento de efluentes, sistema de reaproveitamento da água da chuva e uso racional da luz solar.
Por ora, a Campo Limpo recicla as embalagens e as transforma em pellets. Sua capacidade instalada alcança 4.500 toneladas/ano, com projeção de transformar em frascos em torno de 60% a 70% desse volume, quando o projeto estiver concluído. Rando planeja iniciar ainda no primeiro trimestre deste ano a nova atividade, para a qual investiu em torno de R$ 6 milhões na aquisição de sopradoras da Bekum. A quantidade de embalagem produzida nesta primeira etapa não foi definida. “Ainda estamos estudando os volumes”, comenta. Segundo ele, os equipamentos permitem soprar multicamadas de diversas composições, com porcentagens variadas de resina reciclada e virgem.
A Campo Limpo opera em toda a sua capacidade e comercializa a resina revalorizada para empresas parceiras, nas quais o material é transformado em vários tipos de artefatos, tais como tubos diversos, conduítes, embalagens para óleos combustíveis, óleos lubrificantes, caixas de construção civil, entre outras. Até o momento, a recicladora absorveu recursos de R$ 12 milhões, com previsão de demandar ainda outros R$ 19 milhões até 2011.
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