"A logística reversa é processo de planejamento, implementação e controle do fluxo dos resíduos de pós-consumo e pós-venda e seu fluxo de informação do ponto de consumo até o ponto de origem, com o objetivo de recuperar valor ou realizar um descarte adequado. Desta forma, contribuindo para a consolidação do conceito de sustentabilidade no ambiente empresarial, apoiada nos conceitos de desenvolvimento ambiental, social e econômico. " (Patricia Guarnieri)



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sábado, 15 de maio de 2010

Cidades sustentáveis? Desafios e oportunidades

Há cem anos, apenas 10% da população mundial vivia em cidades. Atualmente , somos mais de 50%, e até 2050, seremos mais de 75%. A cidade é o lugar onde são feitas todas as trocas, dos grandes e pequenos negócios à interação social. É onde a cultura abrange e interliga nações de todo o planeta. Mas também é o lugar onde há um crescimento desmedido das favelas e do trabalho informal: estima-se que dois em cada três habitantes viva em favelas ou “sub-habitações”. E é também o palco de transformações dramáticas que fizeram emergir as megacidades do século XXI: as cidades com mais de 10 milhões de habitantes já concentram grande parte da população mundial.
Em época de imperativa preocupação com o desenvolvimento sustentável, é de se destacar que 2/3 do consumo mundial de energia se dá nas cidades e aproximadamente 75% de todos os resíduos gerados ocorrem nas cidades. Portanto, falar em mudanças climáticas, aquecimento global e sustentabilidade é falar de cidades sustentáveis.
A s metrópoles são o grande desafio estratégico do planeta neste momento. Se elas adoecem, o planeta fica insustentável. No entanto, a experiência internacional – de Barcelona a Portland, de Nova Iorque a Bogotá – mostra que as metrópoles se reinventam. Se refazem. Por que as metrópoles contemporâneas compactas – densas, vivas e diversificadas nas suas áreas centrais – propiciam um maior desenvolvimento sustentável, concentrando tecnologia, novas oportunidades de crescimento, gerando inovação e conhecimento em seu território?
Assim, parece-nos evidente o papel único das metrópoles na nova rede de fluxos mundial e processos inovadores. O potencial do território central regenerado e reestruturado produtivamente é imenso na nova economia, desde que planejado estrategicamente. Sob o prisma do desenvolvimento urbano sustentado, voltar a crescer para dentro da metrópole e não mais expandi-la é altamente relevante: reciclar o território é mais inteligente do que substituí-lo. Reestruturá-lo produtivamente é possível e desejável no planejamento estratégico metropolitano. Ou seja: regenerar produtivamente territórios metropolitanos existentes deve ser face da mesma moeda dos novos processos de inovação econômica e tecnológica.
Uma agenda possível para promover as nossas cidades sustentáveis deveria incorporar os seguintes parâmetros:

- A cidade é “a” pauta atual: o século XIX foi dos impérios, o século XX das nações, o século XXI é das cidades.
- As megacidades são o futuro do planeta urbano. Devem ser vistas como oportunidades e não problema.
- O desenvolvimento sustentável se apresenta mais urgentemente onde mora o problema: as cidades darão as respostas para um futuro “verde”, nelas se consomem os maiores recursos do planeta, nelas se geram os maiores resíduos.
- As cidades se reinventam. Afinal, elas não são fossilizadas: as melhores cidades, aquelas que continuamente sabem se renovar, funcionam similarmente a um organismo, quando adoecem, se curam, mudam. Refazê-la ao invés de expandi-la. Compactá-la. Deixá-la mais sustentável é transformá-la numa rede estratégica de núcleos policêntricos compactos e densos, otimizando infraestruturas e liberando territórios verdes.
- Sustentabilidade desmistificada. Desenvolver com sustentabilidade pressupõe crença no progresso humano. Significa não cair na armadilha psicanalítica do imobilismo ou regresso bucólico-saudosista propiciados pelos discursos catastrofistas-deterministas ou “eco-chatos”. Ou seja: acreditamos na evolução do conhecimento, das técnicas e das tecnologias humanas. Uma postura estrategicamente proativa impõe a adoção de medidas e parâmetros “verdes” em praticamente tudo que fazemos atualmente, mas impõe, sobretudo, a busca e adoção das técnicas e tecnologias avançadas na racionalização da gestão dos projetos e da operação das cidades. Como exemplo: medidas mitigadoras que visam uma melhor “pegada” ecológica urbana, como o menor consumo de energia, adoção de matriz de energias renováveis, reciclagem de lixo urbano, aumento do gradiente verde das cidades e reuso de águas devem ser buscadas sempre. Porem, é mais estratégico que tudo isso se faça na cidade de núcleos policêntricos compactos. O resultado ambiental efetivo é amplamente maior se adotada a reinvenção urbana real. A cidade compacta fará a diferença real no uso mais racional e sustentável dos recursos.
- Exclusão. Não há ilusão. As imagens aéreas, o “olhar de sobreolhar”, são reveladores: as cidades desenvolvidas são as cidades sustentáveis, inclusive socialmente. Mais verdes e mais includentes. São, normalmente, as mais antigas, pertencentes aos países desenvolvidos, “de primeiro mundo”. Ali os maiores dramas já foram resolvidos e há, agora, oportunidade e recursos para a implementação de melhorias que as megacidades emergentes (São Paulo, Xangai) ou de países subdesenvolvidos (Lagos, Dakar) estão muito longe de poder buscar. É muito mais urgente São Paulo, por exemplo, cuidar de direcionar esforços e recursos para regenerar territórios centrais e dotá-los de amplas quantidades de habitação coletiva, construídos rapidamente através de sistemas industrializados, do que preocupar-se com a arborização ou mobiliário urbano de bairros ricos. Não há cidade sustentável sem a desejável sociodiversidade territorial.

Por: Carlos Leite (arquiteto, mestre e doutor pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, com pós-doutorado em desenvolvimento urbano sustentável pela California Polytechnic University e professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie).
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